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Foto do escritorRenascidos em Pentecostes

Cardeal Sergio da Rocha preside Missa na Basílica de São Pedro


Danielle Santos

Comunidade Renascidos em Pentecostes

Fonte: cnbb.net.br

 

Em virtude da canonização dos mártires de Cunhaú e Uruaçu, no dia 15 de outubro, o cardeal Sergio da Rocha presidiu, na Basílica de São Pedro, no altar da cátedra, a missa em ação de graças. A Celebração Eucarística ainda contou com a presença de dom Murilo e dom Leonardo, do cardeal Hummes e de bispos do Nordeste do país.

Confira, agora, na íntegra, a homilia proferida pelo nosso arcebispo e presidente da CNBB:

HOMILIA – MISSA DOS SANTOS MÁRTIRES Basílica de S. Pedro – Vaticano – 16.10.17

Queridos irmãos e irmãs, nesta Eucaristia nós expressamos a nossa ação de graças a Deus pela canonização ocorrida ontem. Bendito seja Deus por Santo André de Soveral, por Santo Ambrósio Francisco Ferro e por São Mateus Moreira e seus 27 companheiros mártires. O louvor a Deus, manifestado na Santa Missa da canonização se prolonga entre nós e continua a ecoar nesta Basílica tão amada, no Rio Grande do Norte, e em todo o Brasil.

Juntamente com a nossa ação de graças a Deus, nós expressamos a nossa sincera gratidão e o agradecimento da Igreja no Brasil ao nosso querido Papa Francisco, assim como a todos os que se empenharam no processo de canonização dos Santos Mártires potiguares, especialmente a Arquidiocese de Natal, na pessoa do Sr. Arcebispo, Dom Jaime Vieira Rocha e do vice-postulador da causa Pe. Júlio César.

Nesta ação de graças, nós somos iluminados pela Palavra de Deus que acabamos de ouvir, e pelos exemplos de nossos Santos Mártires. Eles são, para nós, intercessores e modelos de como seguir a Cristo. A propósito, gostaria de ressaltar três atitudes, dentre tantas outras que poderiam ser refletidas.

Primeiramente, a fidelidade a Jesus Cristo. A fidelidade é sinal e consequência da fé e se manifesta pelo testemunho. Eles foram testemunhas fiéis. Eles perseveraram na fé até o fim e, na hora da provação, não negaram a Jesus. Conforme ressaltou o Papa Francisco, na homilia da canonização, “eles não disseram sim ao amor apenas com palavras e, por um certo tempo, mas com a vida e até o fim”.

Nossos Mártires estão associados aquela multidão em vestes brancas, da qual fala o Livro do Apocalipse, multidão que trazia palmas na mão, por ter passado pela “grande tribulação “. Na imagem dos nossos Santos Mártires, encontra-se essa palma, representando o martírio sofrido por eles. Trata-se da palma da vitória de Cristo, da qual eles participam, de modo especial. Os mártires vencem unidos a Cristo e graças a ele. Eles tiveram suas vestes alvejadas no sangue do Cordeiro, que é Jesus Cristo. Assim como eles, nós somos chamados a permanecer fiéis na hora da cruz, perseverando até o fim, confiantes na graça de Deus.

A segunda atitude a ser cultivada por nós, inspirados no exemplo dos nossos Mártires, é o amor a Igreja e a perseverança na Igreja. Viveram e morreram unidos a Igreja. Foram mártires por pertencerem a Igreja. Quem segue a Jesus, é chamado a participar da comunidade dos discípulos de Cristo, que é a Igreja. Eles nos ensinam a permanecer sempre na Igreja, a valorizar as nossas comunidades, delas participando nas alegrias e nas dores. Jamais abandonar a Igreja. O martírio ocorreu justamente quando eles se encontravam reunidos na Igreja, como Igreja. Por isso, o testemunho se apresenta, ao mesmo tempo, como testemunho pessoal e comunitário. Foi o que aconteceu em Cunhaú e Uruaçu, onde o martírio assumiu uma especial dimensão comunitária. A comunidade permaneceu unida em oração. O testemunho comunitário da fé e do amor é ainda mais necessário no mundo de hoje.

A terceira atitude inspirada no exemplo dos Santos Mártires e no Evangelho é a fé no Santíssimo Sacramento testemunhada através da participação na Eucaristia e na doação da própria vida. Como bem sabemos, o martírio em Cunhaú aconteceu durante a celebração da Eucaristia dominical. “Louvado seja o Santíssimo Sacramento” foram as palavras do leigo São Mateus Moreira, enquanto estava sendo martirizado. Esta mesma fé foi compartilhada e testemunhada pelos seus companheiros mártires. A Eucaristia foi a fonte e o sustento da fidelidade e da coragem testemunhadas pelas comunidades de Cunhaú e Uruaçú. Ninguém é santo por conta própria, ninguém permanece fiel contando somente com suas forças.

O Apocalipse nos recorda que aquela multidão tinha suas vestes alvejadas pelo sangue do Cordeiro que é Jesus Cristo. As palavras de Jesus, que há pouco ouvimos, acontecia de modo admirável na vida dos Santos André, Ambrósio, Mateus e seus 27 companheiros mártires. A Eucaristia se consumava na vida deles, como o “grão de trigo” que cai na terra para produzir frutos. Pelo martírio, eles glorificaram a Deus não somente com os lábios, mas com o coração e a vida.

Uma comunidade que vive da Eucaristia não reage as ofensas e as perseguições, com violência e vingança. Ao invés disso, continua a celebrar a Eucaristia e a vive-la, como fez a Igreja naquela região do Brasil, em 1645. É admirável o testemunho da comunidade que, em meio a perseguições, continuou a celebrar a Eucaristia, que é o alimento dos que buscam construir a paz, por meio do amor e do perdão. Esta atitude eucarística dos que foram martirizados no Rio Grande do Norte torna-se ainda mais importante nos dias de hoje, com tantas situações de agressividade e intolerância difundindo-se no Brasil e no mundo.

Irmãos e irmãs, nós bendizemos a Deus pelo “grão de trigo” representado pelos sacerdotes martirizados e pelos fiéis leigos e leigas, que formavam a quase totalidade dos mártires em Cunhaú e Uruaçu. O Laicato foi o grão de trigo que se consumiu naquele martírio, juntamente com os sacerdotes. O Laicato continua a ser na Igreja, hoje, o grão de trigo que se consome no dia a dia de nossas comunidades, no serviço pastoral, na evangelização e pelo testemunho cotidiano na família e na sociedade. Os leigos são chamados a santidade e, pela graça de Deus, têm dado testemunho de santidade no passado e no presente da Igreja no Brasil.

Trata-se da vida doada no dia a dia de nossas comunidades, da vida doada no gesto supremo do martírio, que tem produzido muitos frutos, como o grão de trigo do qual fala o Evangelho. Que o testemunho dos nossos Santos Mártires possa estimular os nossos cristãos leigos e leigas, especialmente no Ano do Laicato, que está para ser iniciado, no Brasil. Para a superação da crise, vivida no Brasil, necessitamos muito do testemunho corajoso e fiel dos leigos e leigas na vida política, econômica e cultural.

Nesta Eucaristia, supliquemos, confiantes, a intercessão dos Santos André de Soveral, Ambrósio Francisco Ferro, Mateus Moreira e seus 27 companheiros mártires, para que a fé em Cristo, o amor ä Igreja e a vivencia da Eucaristia continuem a ser testemunhadas no Brasil, por palavras e pela vida, em nossos templos, nas famílias, e nos diversos ambientes da sociedade.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

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