Nessa Carta de São Paulo aos Romanos, ele começa dizendo: “Irmãos, uso uma linguagem humana, por causa da vossa limitação. Outrora, oferecestes vossos membros como escravos para servirem à impureza e à sempre crescente desordem moral”. (Rm 6,19)
Paulo está escrevendo há dois mil anos. Imagine o que Paulo ia dizer hoje, vendo tudo isso que estão querendo fazer , tudo que já estão fazendo e toda a imoralidade que já está nesse mundo. Isso, porque não somos espirituais, somos carnais. O mundo quer ser matéria e esconder o Espírito, esquecer que O tem dentro de si.
A Palavra é essa: “Mas agora que vocês já estão dando os primeiros passos com Jesus Cristo, então, coloquem os vossos membros no mundo da espiritualidade, a serviço da santificação”. Ou seja, “se santifique, busque a santidade”, diz Paulo.
Nós temos buscado e honrado a matéria, e nos agarrado com ela. Mas, um dia, nós vamos deixá-la e vamos para o mundo espiritual. Nesse presente, não valorizamos o amor e a graça de Deus, que estão sobre nós, mas a carne. Porém, ela é insaciável.
A meta final é a vida eterna, para lá nós estamos indo e, quando lá chegarmos, não teremos mais para onde ir; não dá para voltar. Diz a Palavra, na doutrina cristã que, se nascemos uma vez, morremos também uma vez. Essa é a verdade que acreditamos.
E no céu só entra santo. Por isso Jesus nos diz: “Seja santo como vosso Pai também é santo”. (Mt 5,48) Talvez nós não possamos ser santos como Deus, mas no céu só entra santo. Ninguém nasce santo, mas se torna um pouco a cada dia. A criança nasce cem por cento pura, inocente, mas nós vamos convivendo nesse mundo materialista e louco, e vamos sendo entregues ao pecado.
“Mas agora, que já temos a consciência disso, devemos nos esforçar, para buscar um pouco de santidade, dia após dia, porque o salário do pecado é a morte”, vai dizer São Paulo. Ele não fala da morte física, mas da espiritual.
Jesus vai dizer, no Evangelho de hoje: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso"! (Lc 12,49) E porque não está aceso? Por conta da nossa limitação, do amor que temos pelo mundo e pelas coisas do mundo. A vontade do Senhor é de que você fosse cheio(a) do Espírito Santo.
João Batista, quando ouviu a saudação de Maria, pulou no seio de Isabel, que ficou cheia do Espírito Santo, vindo do fogo que estava em Maria. E Jesus deseja colocar fogo no nosso coração. Ele deseja, verdadeiramente, que o fogo que Ele veio espalhar, possa acender os nossos corações. Adão que, feito de barro, não tem vida; como ele não tem vida, é preciso que ele receba o Espírito, o sopro da vida. Ressuscitando, o Senhor faz o mesmo gesto em direção aos apóstolos, que precisavam ter um coração fervoroso, precisavam ser cheios do Espírito Santo. Numa preparação para Pentecostes, Jesus sopra sobre eles e diz: “Recebereis o Espírito Santo e sereis as minhas testemunhas”. (At 1,8)
Sem o Espírito Santo é difícil testemunhar; seria impossível falar de Jesus, se não por condução do Espírito.
Nas primeiras comunidades, até a sombra de Pedro, depois de Pentecostes, curava. Ele que negou Jesus por três vezes, fraco e frágil como eu e você, depois que recebeu esse fogo que veio do céu, para queimar e purificar, curava através da sua sombra. E por que a nossa sombra não cura? Porque não temos esse vigor, não temos esse fogo dentro de nós, porque ainda somos carnais.
Estamos nos arrastando, com o coração fechado, com as preocupações do mundo; assim, o Espírito ainda não pode fazer nada por nós. Temos que nos deixar ser conduzidos por Ele, pela espiritualidade de Pentecostes, pois quem faz é Deus e não somos nós; quem faz o milagre é Deus.
Mas fechamos o nosso coração. Eis que estou à porta e bato. Se abrires, eu entrarei e te abençoarei, te ajudarei, me sentarei contigo e te recompensarei, nos diz o Senhor.
“Não se afaste de Jerusalém, porque recebereis o Espírito Santo e sereis as minhas testemunhas”, diz Jesus. “Vocês ficarão fortes, corajosos, decididos, enfrentarão a morte com alegria”. E foi isso que aconteceu nas primeiras comunidades. Depois de Pentecostes, os discípulos foram apedrejados, degolados, jogados para as feras, queimados, mas foram com entusiasmo e alegria, porque a esperança deles já não estava nesse mundo, mas na eternidade.
Hoje, nós temos medo de tudo. Não queremos passar é por sofrimento. Por isso, estamos com a cabeça baixa, ninguém tem coragem de falar nada. Por amor a esse mundo, largamos Jesus Cristo, a Eucaristia, os Sacramentos e a Sua lei.
Estamos caminhando para a vida eterna, em Jesus Cristo, e nós temos que tomar posse disso e nos libertar do medo. A Palavra vai nos dizer, por várias vezes: “Não temas, porque eu estou contigo!” E se a gente acreditasse, a nossa vida seria, totalmente, diferente. Jesus nos diz: "Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância". (Jo 10,10)
Quando eu cheguei aqui, na São Pedro, há 20 anos, eu não vim para ser pároco, pois o bispo achava que eu não tinha capacidade. Eu era o único vigário de Brasília, naquela época. E não tinha outro padre para vir, porque todos estavam em suas paróquias. Eu era vigário do Padre Rambo, lá em Planaltina, no Vale do Amanhecer. Dom Jesu me chamou e disse: “Dom Falcão mandou que te enviasse para tomar conta de uma paróquia, lá em Taguatinga, que está vazia, por conta de alguns problemas. Você ficará por lá até o fim de dezembro, quando ordenaremos novos padres. Com isso, você volta para o Vale do Amanhecer”. Eu só tinha oito meses de padre.
Eu cheguei aqui em uma quarta-feira, às 10h. Logo depois, chegou um padre aqui, intelectual, da Arquidiocese, para fazer um inventário, contando tudo o que tinha na paróquia. Eu teria que prestar conta de tudo, três meses depois. Mas ele encontrou somente os bancos e Jesus, no Sacrário.
Então, vim para o Santíssimo, diante daquela solidão e tristeza, e comecei a rezar. De repente, ouvi um grito. Era um rapaz que, batendo em meu ombro, disse que estava procurando o padre, pois estava ali para cortar a luz, por falta de pagamento. Passei os dois primeiros dias no escuro, até a conta ser paga. E o fato é que, o Corcel, que eu trouxe comigo, foi totalmente quebrado por dois rapazes. E do sábado para o domingo, entraram umas quarenta pessoas, os únicos paroquianos que tinham aqui; revoltados, acabaram de quebrar o resto que tinha. Nunca fui tão xingado como naquele dia.
Mas o Senhor me disse: “Nada temas, porque Eu estou contigo”!
E sabe o que aconteceu? Há 20 anos eu estou aqui. Porque o que Deus faz, Ele faz de verdade.
Eu e você temos que entrar no céu, juntos, em nome de Jesus Cristo!
Vamos caminhando para, no ano que vem, celebrarmos 20 anos da Semana de Pentecostes, com o tema: "Levantai-vos e vamos"! Vamos com Jesus Cristo, colocar essa cidade de joelhos, colocar esse povo para orar e testemunhar que a nossa Igreja está viva.
Padre Moacir Anastácio de Carvalho
Homilia (Segunda Santa Missa de Cura - 26/10)
Transcrição e adaptação: Danielle Santos
Comments