“Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo”. (Lc 14, 26-27) Jesus vai dizer isso para a multidão que, todos os dias, O seguia.
Mas não dá para confiar no amor de multidão, que é como uma boiada que estoura e vai para qualquer lado. E Jesus sabe disso. É por isso que Ele convida somente setenta e dois discípulos, até o dia que Ele fez aquele discurso do Pão da Vida. Em uma discussão com os fariseus, Ele vai dizer: “Aquele que não come que não come o meu corpo e não bebe o meu sangue, não tem a vida”. É o suficiente para sessenta dos seus discípulos O deixarem falando sozinho. Jesus sabe que essa multidão também não vai lhe seguir. Essa multidão que, no Domingo de Ramos, vai gritar “Hosana nas alturas! Bendito o que vem em nome do Senhor”, na quinta e na sexta-feira vai gritar “Crucifica-O, Crucifica-O”.
Jesus fica com doze discípulos e, naquele dia, olha para eles e vai dizer: “Vós também não queres ir”? Olha como Jesus é duro no seguimento. E São Pedro vai dizer: “A quem iremos, Senhor? Só vós tem palavras de vida eterna”. Mas o Senhor ainda vai dizer nesse mesmo texto: “Um de vós é um traidor”.
Hoje, Ele se volta para essa multidão que quer milagres, multiplicação dos pães, que quer ser curada, liberta; multidão que segue Jesus Cristo, mas não quer compromisso com Ele.
O que nos impede de seguir Jesus Cristo nessa noite?
Talvez você mesmo está sendo a barreira para servir Jesus Cristo. Mas não adianta começar e desistir, tempos depois, da caminhada. Antes de você começar, examine se você tem condições de continuar.
Todo mundo começa; começar é fácil. Porque do ponto de partida para o ponto de chegada existe um percurso a ser cumprido.
Ele vai nos dizer: “Se quiser me seguir, tem que estar livre”.
Antigamente, quando você entrava no convento, raspava a cabeça. Porque a vaidade começa pelos cabelos. Foi isso que Francisco fez com Santa Clara, mesmo sendo muito bonita. Hoje já não se usa isso.
Nós somos seguidores de Cristo, temos que renunciar a nós mesmos. É isso que o Senhor está nos pedindo. Nesse mundo, nós que somos a luz de Cristo, temos que acender velas e não apagá-las.
É preciso que, antes de se decidir por Jesus Cristo, pense se você vai conseguir. Dia 30 de novembro, vamos receber a imagem de Nossa Senhora da Abadia, dia que também eu comemorarei 21 anos de padre. Há um ano, em um domingo, eu fui celebrar Missa na Capela Imaculada Conceição, e meu nome estava em todos os jornais do Brasil. Eles diziam muito mal de mim e que aqui era um local que se lavava dinheiro. Então, os paroquianos que estavam na Missa olhavam pra mim e pensavam: “Esse padre é ladrão”. Terminei a celebração, muito abatido. Quando entrei no carro, comecei a fazer uma oração e, imediatamente, nasceu um canto, uma música, na qual eu confirmei o meu sim para Jesus Cristo. Eu dizia para Ele: “Eu posso ir para onde for, que te levarei comigo, porque um dia eu te dei um sim”. Foi Assim que nasceu a canção “O sim que eu te dei”.
Eu preciso ter a humildade de reconhecer que Deus é o Senhor de tudo e que eu posso largar tudo por Ele. Deus não vai te enganar de jeito nenhum. Não existe ninguém que possa te amar mais do que Deus, que possa te proteger mais do que Deus.
O problema é que colocamos nossa confiança em criaturas e não nos colocamos, totalmente, a serviço de Deus.
Desapega! Deus é poderoso e é Teu protetor, como ele diz a Abraão: “Eu sou o Teu protetor”.
Então, não olhe para sua idade, para sua fraqueza, não olhe para suas doenças, porque o Senhor é o Teu protetor.
Padre Moacir Anastácio de Carvalho
Homilia (Santa Missa de Libertação – 08/11/2017)
Transcrição e adaptação: Danielle Santos
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