525634302981206
top of page
Renascidos em Pentecostes

SEXTA-FEIRA SANTA - OS IMPROPÉRIOS

Os dicionários definem “impropério” como: censura ultrajante. Porém na liturgia católica se define como as queixas dirigidas à humanidade (no caso representada pelo povo judeu) postas na boca de Jesus, justamente no ofício da Sexta-Feira Santa. É disso que falaremos.


Os judeus são o povo eleito e alvo das promessas de Deus, como lemos no Pentateuco. No entanto não aceitaram nem quiseram entender que a vinda de Jesus, seria o cumprimento da promessa feitas aos pais da grande nação judaica – posse da terra e salvação.


Tudo o que os judeus fizeram foi levantar falso testemunho contra Jesus; promoveram intriga com os sumos sacerdotes, com os anciães do povo, e com poderosos de Roma; perseguiram os que se convertiam ao cristianismo; promoveram matanças contra estes, e tudo culminou na crucifixão do enviado de Deus.


No livro do profeta Miqueias, capítulo 6, versículos 3-4, diz o Senhor: 3“Povo meu, que te fiz, ou em que te contristei? Responde-me. 4Fiz-te sair do Egito, livrei-te da escravidão, e mandei diante de ti Moisés, Aarão e Maria”.


Eis uma das primeiras questões que o Senhor leva a seus servos. Na verdade, este livro de Miqueias é importante para a compreensão do que virá quando da análise dos “IMPROPÉRIOS”. À guisa de informação complementar, Miqueias de Morasti (profeta menor) ensina que seu povo deve viver justa e honestamente e ser misericordioso. Atitudes assim são mais atraentes para o Senhor do que oferecer sacrifícios. Ele testemunha que Javé é compassivo e manso e que está sempre propenso a perdoar aos que se arrependem. Sugiro que se faça uma leitura acurada.


O canto “LAMENTOS DO SENHOR” é entoado durante a adoração à Santa Cruz.

A letra deste canto traz uma maravilhosa exclamação que evidencia sobremaneira, a santidade de Jesus, sua fortaleza espiritual e sua perenal existência; trata-se do “Trisagion”, que se define como “a tripla invocação de Deus”: “Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal”. O Trisagion, devemos elucidar, está diretamente ligado à celebração da Paixão de Cristo desde sempre. A tradição da Igreja Copta (etíope), afirma que foram estas as palavras (transformadas em hino) ditas por Nicodemos, que acompanhado de José de Arimateia, sepultou o Corpo de Jesus (João 19,39). Tendo percebido a grandeza daquele momento, fixando os olhos naqueles santos despojos, exclamou: “Santo Deus, Santo Forte, Santo Imortal, tende piedade de nós”.


Esta invocação é a resposta que Nicodemos – posso dizer, representando o povo judeu – arrependido, faz aos impropérios que Jesus pronuncia e estão presentes na liturgia desde o século nono. Naturalmente que não se quer incriminar nem julgar o povo judeu por não ter aceitado nem reconhecido a condição de Jesus como Filho do Deus Altíssimo, a Igreja apenas diz que eles O rejeitaram; consideremos, pois, que muitos naquela época seguiram sua atitude. Dentre as várias estrofes deste hino, destacamos a primeira, na qual Jesus faz a seguinte pergunta: “Povo meu, que te fiz Eu, em que te contristei? Responde-me” (citação do 4º parágrafo). É Jesus se queixando. Ele próprio, respondendo, diz que tanto ensinou, prodigalizou milagres e personificou a bondade, mas recebe em troca somente desamor, esquecimento e punição.


O desabafo de Jesus segue no mesmo tom de censura, tristeza, sofrimento e dor, terminando assim: “Eu te exaltei com grande poder e tu me suspendeste no patíbulo da cruz”.

De todos os monólogos que já li ou tive conhecimento, este é o que verdadeiramente me toca, provoca a mais profunda comiseração e lágrimas.


Os impropérios são, na verdade, uma rememoração das benesses que o Senhor dava aos hebreus durante sua saga no deserto e chegada na terra prometida. Jamais lhes faltou o suficiente para seu sustento.


Estamos vivendo o tempo litúrgico propício a fazermos uma autoanálise profunda e sincera das nossas atitudes enquanto cristãos católicos. Ler e meditar os impropérios nos faculta a oportunidade de vislumbrar nossa imensa ingratidão e desamor para com Deus. Então, o que fazer? Confessemos nossa fé – primeiro bem necessário para o cristão – reconhecendo que Deus é Santo, Forte e Imortal, enquanto todos somos vis quimeras.



Do irmão em Cristo Jesus,

Zezo Silva


94 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page